Se estivesse viva, Elis Regina completaria 70 anos nesta terça-feira (17). Para celebrar a data e homenagear a vida e a obra dessa cantora inesquecível, dona de uma das maiores vozes femininas do mundo, sua família lança o site oficial da artista.
Descrito como um presente dos filhos e um movimento de gratidão aos fãs, o projeto é encabeçado por João Marcelo Bôscoli, filho da cantora. O site reúne um vasto material inédito. São mais de 500 fotos da cantora, vídeos inéditos e áudios exclusivos. Lá, os apreciadores da obra da eterna Pimentinha, como foi carinhosamente apelidada pelo poeta Vinícius de Morais, também podem fazer o download gratuito do livro Viva Elis, de Allen Guimarães, que conta a biografia artística da artista.
Gaúcha de Porto Alegre, Elis morreu em 19 de janeiro de 1982, em São Paulo, aos 36 anos. Passados mais de 30 anos, a cantora de timbre inigualável segue lembrada como uma das mais versáteis intérpretes da música brasileira. Na voz dela, composições de grandes nomes como Tom Jobim, João Bosco, Milton Nascimento e Belchior foram elevadas a um grau de perfeição técnica e emocional ímpares.
Como bem lembrou Maria Rita, filha da cantora, em entrevista à revista Rolling Stones, Elis usou sua arte para acrescentar mais do que memória emotiva à vida das pessoas. “Não se vê isso hoje em dia — até porque parece que ser engajado hoje é mal visto; os artistas estão engessados, preocupados demais com outras coisas, imagem, por exemplo. Eu inclusive. A sua compreensão das letras permitia sua interpretação ímpar — e isso também se dá ao seu senso crítico. Ela tinha essa necessidade de cantar, de se entender cantora, de se fazer ouvir, de falar”, disse.
Nova biografia também é lançada: “Elis Regina – Nada Será Como Antes”
A obra, do jornalista Julio Maria, traz detalhes nunca revelados sobre Elis, inclusive em relação o seu falecimento, em 1982, vítima de uma overdose. O autor teve acesso ao inquérito da morte da artista. “A biografia descreve fielmente a cena captada por meio desse documento e pesquisas”, disse Julio em entrevista ao iG. “Pretendi transmitir no livro toda a emoção e a intensidade daqueles momentos, a ponto de o leitor poder enxergar-se como parte da cena”.
Para recriar a vida e obra de Elis Regina, o jornalista entrevistou durante quatro anos mais de 120 pessoas que conviveram diretamente com ela. Entre as fontes estão Caetano Veloso, Milton Nascimento, Rita Lee e até Dona Ercy, a mãe dela. “Cada um [dos entrevistados] teve reações diferentes ao voltar àquela época e me contar sobre as coisas que aconteceram”, explicou o autor. “Posso dizer que, em 80% dos casos, os entrevistados se emocionavam a ponto de chorar”.
Para Julio Maria, “Nada Será Como Antes” é diferente de todas as outras histórias já escritas sobre Elis Regina — tanto que de um livro em homenagem a cantora acabou virando uma biografia. “Quando cheguei à segunda ou terceira entrevista, fiquei intrigado com as histórias que me contavam. Fui atrás do que havia sido escrito sobre Elis e resolvi ir além”, contou.
Um dos pontos fortes da obra é o acesso que o jornalista teve a documentos exclusivos. Além do inquérito sobre a morte da artista, ele também analisou uma carta inédita que Elis escreveu ao filho João Marcelo Bôscoli quando ele tinha apenas um ano. Bôscoli deveria ter lido a mensagem quando completasse 18 anos, mas só a leu durante a produção da biografia. A carta é reproduzida na íntegra no livro.
A relação de Julio Maria com os filhos da cantora, aliás, foi muito saudável. “João, Pedro e Maria Rita me receberam de coração aberto para falar da mãe e nunca, jamais fizeram qualquer exigência ou impuseram qualquer restrição”, disse o autor. “Essa foi a facilidade que, confesso, me surpreendeu”.
Em “Nada Será Como Antes”, Julio Maria pretende envolver o leitor na vida frenética de Elis Regina. “Ela cantava o que vivia, realmente”, disse. “Ela jamais se encaixaria em uma biografia que separasse sua ‘vida pessoal’ de sua ‘vida profissional’. Ela ultrapassava esses limites e se entregava com uma interpretação violenta, indo a lugares dos quais não sabia se conseguiria voltar”, explicou o autor. “Fico feliz por ter tido carta branca para retratá-la com liberdade”.
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